Tuesday, July 06, 2010

Come back...

Repito cores sem manual por companhia.
Não conheço outro que não a rotina.
Abro, suada do cansaço, páginas inúmeras em branco, sem lhes escolher chave.
Sigo o instinto.
Peco pela impulsividade.
E nunca soube ser criteriosa.
O pincel facilita a dança, os movimentos do corpo misturam-se com cores trabalhadas com um único propósito: inebriar a realidade.
Não sei por que pinto… escolhi-te a dedo em fotografias que decidi apagar.
A tinta cobriu as formas, ofuscou-te, roubou o que tinhas de teu e escreveu por cima, sem qualquer dose de mágoa.
Não sei onde te procurar.
Não posso exigir que me encontres.
Tardes de verão largadas ao vento, amores de praia enterram-se na areia.
Nós, urbanos e cinzentos, procuramos sobrevivência… E se a tinta se esgota?
Onde vais tu reconhecer-me se o meu corpo falhar?
A voz não é suficiente, o toque peca e larga, sem saber bem do que foge.
E o pincel, meu caro, é algo que seguro nos dedos enquanto não os cortas…
Saudades de mãos entrelaçadas, crentes no poder da luz que nos ofuscou e partiu a realidade.
A luz não descobre, apaga.
Os dedos suam de tanta agitação imperecível.
As páginas em branco são fáceis, agarram a tinta de novas e imaculadas.
Mas pecam de vazias…
As minhas mãos sobram de vazias.
E tu? Como reinventar-te se me esqueci de te guardar?
Riscos e traços atropelam-se sem ter onde nem porquê.
Ajo por impulso.
Sinto, logo faço.
A rede de consequências nunca quebrou as expectativas.
Mas esperar é pensar no futuro, e essa besta negra atropelaria a incondicionalidade do presente.
Posso trazer-te de volta?
Sem fé, meu amor, desta vez sem fé…

Monday, June 28, 2010

Cores (ou o branco da mistura)

Quando a cabeça cede, e a vontade deixa de ser leme e dono, as palavras atropelam-me.
Saudades de páginas em branco, de finais de tarde em que a minha vida se preenchia em letras que se misturam em realidades por mim desenhadas.
Não me lembro onde comecei, o que fiz para forçar os meus passos até aqui, e como travei o pescoço, impedindo-o de olhar para trás.
Não gosto de dias de sol.
Odeio cidades cheias de vida, sorrisos estampados, como o teu que se recusa a olhar-me.
Recordo paredes vazias onde o sentido era só meu.
Paredes brancas são mais fáceis de pintar.
Cheiro a fritos, caminhadas a passos largos, bandas sonoras que os ouvidos tapam, como se tudo o que foi fosse só isso: um fantasma.
Cobri-te de preto, fechei-te a sete chaves, como se fosse meu o poder de te reinventar.
Dias simples são os de chuva.
A tinta mistura-se com a água.
É tão mais fácil tirar sentido do que ninguém vê!
Borrões, formas imperfeitas, cabelos que não os meus misturam-se com o olhar que deixei outrora.
Nada meu se revê.
Força, trava, pinta, e apaga.
Se reinventar-te fosse simples, pintava-me de preto também.
Mas a água escorre, arranca a tinta dos meus braços
(ouço unhas a estalar)
O que sobra cobre-te de tão pequeno.
Guarda as fotografias como se cumprisses promessa.
E cobre-as de preto no fim.
Deixa-as ser vazias.
A cor nunca te valeu de nada.

Wednesday, January 20, 2010

Aquele que lê... ou o regresso às críticas cinematográficas

Muito foi escrito e dito sobre a nova obra de Stephen Daldry. Admitamos que o legado não é fácil: superar as “Horas” como ele as contou – ao segundo – é tarefa quase impossível. Superar um trio de gigantes, como Julianne Moore, e as suas sardas inconfundíveis, Meryl Streep (antes, bem antes, de Mama Mia), e Nicole Kidman com o seu nariz a transpirar carácter, poderia ser quase uma loucura. Mas Stephen Daldry decidiu arriscar. Se pôs o pé fora do abismo é mais questão de gosto pessoal do que de competência de realização.
Revela-se extraordinária a capacidade de retratar uma história de pedofilia tão declarada, e ser bem sucedido a evitar a polémica. O espectador não vacila, não duvida, não chama a moral para intervir. Vê e envolve-se numa relação estranha, desconhecida, quase muda de cumplicidade, em que tudo é dito e feito sem perguntas, ou envolvimento real. As palavras, essas, só surgem das centenas de livros a que naturalmente a escola aos 15 anos obriga. E é aqui que vemos a verdadeira partilha, aquela que ousa para além do sexo, aquela que abre a porta a lágrimas e discussões, a palavras que ditam sentimentos, a questões inseguras, e a um assumir quase a medo do futuro. Esta evolução quase galopante não permite sequer que nos questionemos se há honestidade no que sentem. A velocidade mantém-se constante e coerente com o final abrupto de uma relação precoce que atropela tanto protagonista como espectador. Porque nunca houve palavras, além das que outros escreveram. Não houve surpresa, apenas dor. Mas uma dor que era ainda incapaz de se sentir criança face à dor que o futuro guardava.
Qualquer tentativa de desenvolvimento a partir daqui arruinaria o efeito surpresa. Livro brilhante, resultado cinematográfico aquém das expectativas. Ainda que a gigante Kate Winslet (que é das melhores e mais versáteis actrizes – e que não foi devidamente valorizada pelo extraordinária mulher entupida de sonhos em Revolutionary Road) faça o filme, não sem dar a mão ao brilhantemente expressivo David Kross, e sem quase ser levada ao colo por Ralph Fiennes, o filme peca pela ingenuidade. Há um silenciamento da dor que é quase incomodativo. As personagens são mudas, e meros peões de marionetistas que se esquecem não serem elas feitas de madeira.
Ela não grita, nem chora. Não como a vida a obrigaria a gritar e a chorar. Ele é incapaz de pedir justificações, porque a vida o obrigou a desviar-se e esquecer. E o reencontro, ainda que coerente com toda a ausência de palavras próprias em discurso directo, desilude. Seria a frieza e o entorpecimento tanto do amor como, e talvez sobretudo, da vida, a mensagem? Talvez… Mas não convence. Falta falar da culpa, e da cobardia. E, isso, é (quase) imperdoável.

Monday, September 21, 2009

Happy birthday to "our" man

If you want a lover
I'll do anything you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you
If you want a partner
Take my hand
Or if you want to strike me down in anger
Here I stand
I'm your man

If you want a boxer
I will step into the ring for you
And if you want a doctor
I'll examine every inch of you
If you want a driver
Climb inside
Or if you want to take me for a ride
You know you can
I'm your man

Ah, the moon's too bright
The chain's too tight
The beast won't go to sleep
I've been running through these promises to you
That I made and I could not keep
Ah but a man never got a woman back
Not by begging on his knees
Or I'd crawl to you baby
And I'd fall at your feet
And I'd howl at your beauty
Like a dog in heat
And I'd claw at your heart
And I'd tear at your shee
tI'd say please, please
I'm your man

And if you've got to sleep
A moment on the road
I will steer for you
And if you want to work the street alone
I'll disappear for you
If you want a father for your child
Or only want to walk with me a while
Across the sand
I'm your man

If you want a lover
I'll do anything you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you

Leonard Cohen

Thursday, September 03, 2009

I hate it when life gets hard

“No true fiasco ever began as a quest for mere adequacy. A motto of the British Special Air Force is: 'Those who risk, win.' A single green vine shoot is able to grow through cement. The Pacific Northwestern salmon beats itself bloody on it's quest to travel hundreds of miles upstream against the current, with a single purpose, sex of course, but also... life”

Elizabethtown

We fight for meaning, all the time

Ninguém disse que ia ser fácil…
Mas quando voluntária e deliberadamente criamos obstáculos no caminho, começamos a perder o rumo.
Não podemos fazer tudo depender das grandes decisões.
Há pequenos passos que nos mudam.
Há decisões minúsculas com que nem sequer nos debatemos e, essas sim, implicam e vincam.

Nunca pensaram “Queria parar de crescer?”
O emprego que nunca é suficiente
A cidade que nunca nos dá tudo o que queremos
A vontade de mudar latente, constante
As pessoas que deixamos para trás
Aquelas que decidem para além de nós

Perdida?! Sim…
Sempre soube muito bem o que queria.
Perdi-me nas prioridades.

Queria que a vontade fosse leme.
Mas o que fazer quando já nem a vontade conhecemos?
Sei que quero agarrar a vida.
Desconheço como.

Tuesday, June 16, 2009

Now what?

Vontade de ser diferente.
Ver-me outra.

Parece que vivo de trás para a frente.
Sei onde estou, mas não faço ideia de onde quero chegar.
Sei onde me sinto, sei onde pertenci, sei o que me fez chegar aqui.
E agora?

Sempre acreditei que aos 25 anos ia ter tudo muito claro.
Não “the whole picture”, mas segura dos passos momentâneos.
É tudo demasiado repentino, demasiado pequeno, demasiado acelerado.

Não tenho tempo para respirar e ouvir-me “este momento é meu, let me enjoy it”.

Corro sempre. A cabeça corre sempre.
Está antes, depois e adiante. E o que é mais assustador, o antes, o depois e o adiante acontecem todos simultaneamente.

Estou sempre noutro sítio que não aqui.
Não por vontade de fugir do momento, mas por incapacidade de o agarrar.

Queria ser inteira.
Now what?

Friday, June 05, 2009

Madrid revisited

At last, vou rever a minha cidade Erasmus.

Saudades, saudades, saudades...

Prometo ter muuuuito para contar quando voltar.

See you in a week *